sábado, 15 de maio de 2010

A REPÚBLICA DA POESIA

Para o Chile

Na república da poesia
um comboio cheio de poetas
desliza para sul à chuva
tal como as ameixeiras balançam
e os cavalos escoiceiam o ar,
e as bandas filarmónicas
desfilam pelas ruas abaixo
com trompetes, com chapéus de coco,
seguidas pelo presidente
da república,
que aperta todas as mãos.

Na república da poesia
os monges imprimem versos sobre a noite
em caixas de chocolate conventual,
cozinhas em restaurantes
usam odes como receitas
desde enguias a alcachofras,
e os poetas comem à borla.

Na república da poesia
os poetas lêem para os babuínos
no jardim zoológico, e todos os primatas,
tais como poetas e babuínos, gritam de alegria.

Na república da poesia
os poetas alugam um helicóptero
para bombardearem o palácio nacional
com poemas em marcadores de páginas
e toda a gente no pátio,
cega de choro,
se esforça por apanhar um poema
que flutua do céu.

Na república da poesia
a guarda do aeroporto
não autorizará a tua saída do país
até que lhe declames um poema
e ela diga Ah! Lindo.

Martín Espada

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