sexta-feira, 21 de novembro de 2008

77 - SOU NÓMADA E BASTA-ME

Sou nómada e basta-me
Beber a água que vem da montanha
E olhar a mica do céu onde se reflectem
As mutações da Coisa — o pó
Que nela pousa. A teia do conhecimento
Está podre e não vou
Deitar-me nela. Escrevo porque sou um arco
Que vai acumulando alguns restos
Alguma dor algum vento perfumado
E subitamente dispara. Cinza. Palavras
Que não têm deuses nem brilho nem nada.

Casimiro de Brito
Na Via do Mestre 2000

terça-feira, 4 de novembro de 2008

STRIP TEASE

Jamais eu ficaria quieto
sob o teu olhar;

que muito menos quietos,
no direito de ir e vir,
sobre o teu corpo,
seriam os meus olhos lívidos.

Porque sobre mim,
bastam os sons
dos teus vestidos:
já me desvestem a alma.


Soares Feitosa
Salvador, madrugada alta, 5/12/1996