segunda-feira, 20 de abril de 2009

O MESMO INTERIOR

A caminho de tua casa para um festim de amor
vi na esquina de uma rua
uma velha pedinte.

Peguei na sua mão,
beijei a sua face delicada,
conversámos, ela tinha
o mesmo interior que eu,
do mesmo género,
senti-o instantaneamente
como um cão conhece pelo cheiro
outro cão.

Dei-lhe dinheiro,
não conseguia separar-me dela.
Afinal, todos precisamos
dos que nos são próximos.

E depois eu já não sabia
porque caminhava para tua casa.

Anna Swir
(poema retirado do blog "Do Trapézio Sem Rede" cujo administrador traduziu a partir das traduções para inglês de Czeslaw Milosz e Leonard Nathan - Foto de Tiago Martins)

2 comentários:

menina... disse...

Talvez... não haja felicidade maior, do que encontrar neste 'mad world', alguém que tenha o mesmo interior do que nós próprios. Porque encontrarmos isso é realmente um verdadeiro TESOURO!

cláudia pinho disse...

Muitas vezes acabamos por nos deixar afastar do que de facto nos é caro, e cedemos às pequenas tentações "fast food". Sobretudo há que ficar atento, observar e deixar doer. Mesmo as dores que não são nossas. Às vezes iguais às nossas.